O balanço dos seis meses do rompimento da barragem do Córrego do Feijão mostra uma população que sofre com a perda de suas vítimas, o rio Paraopeba morto e, também, um contexto de destruição ampliado e sem data para terminar em vários municípios mineiros.
Após o crime da Vale em Brumadinho com 248 mortos e 22 desaparecidos, a suposta falta de estabilidade garantida das barragens em outras localidades e as ações ditas emergenciais da Vale iniciaram um pesadelo em Barão de Cocais, André do Mato Dentro (Santa Bárbara), Macacos (Nova Lima) e Itabirito.

Uma única mineradora, a Vale, e milhões de pessoas atingidas pela lama. Toda a população da região metropolitana de BH vivendo a angústia por causa da possibilidade real de ficar sem água nas torneiras a qualquer momento.
Grandes áreas de Mata Atlântica estão sendo destruídas, em André do Mato Dentro e Macacos, em obras que a Vale diz ser para segurança das comunidades. Os documentos e projetos das obras não foram apresentados ao Ministério Público de Minas Gerais. Para a população e para os ambientalistas, as obras têm outro objetivo: abrir caminho para a aprovação e expansão de projetos minerários da Vale nas regiões atingidas.
Em junho de 2019, duas cartas abertas do Gabinete de Crise – Sociedade Civil denunciaram a ausência de medidas que garantam a proteção do abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte e o desrespeito às comunidades atingidas pelas barragens em Minas Gerais.
Os crimes ambientais da Vale em Mariana e Brumadinho, os prejuízos ao Rio Doce e Paraopeba e as centenas de mortes não serviram para repensar a dependência da mineração em Minas Gerais e apontar outros caminhos econômicos possíveis? perguntam ambientalistas e moradores.
“Seria a atividade mineradora tão relevante para a sociedade em termos de pagamento de impostos e de geração de empregos que compensaria os danos e os riscos de toda ordem que acarreta para esta mesma sociedade em termos dos impactos ambientais da atividade normal das minas e dos impactos oriundos da ocorrência de um sinistro?”, questionam as organizações da sociedade civil signatárias.
A situação é extremamente grave: das 69 barragens que estão localizadas no Alto Rio das Velhas, 16 estão sem garantia de estabilidade e pelo menos quatro com alto risco de rompimento, sendo a maioria da Vale, de acordo com a Agência Nacional de Mineração.
“O cenário é assustador. Se um único rompimento de barragem já inviabilizaria, por tempo indeterminado, a captação de água da Copasa em Bela Fama, imagine o que é ter em torno de 16 barragens sem garantia de estabilidade? É uma situação catastrófica que mostra o descaso com a população que depende dessa água, comenta Maria Teresa Corujo, ambientalista do Movimento pelas Serras e Águas de Minas.
Publicidade enganosa

A ambientalista Maria Teresa Corujo, única conselheira a votar contra o pedido de expansão da mineração no Córrego do Feijão, em Brumadinho, em dezembro de 2018, explica que mineração e sustentabilidade são dois extremos que nunca se encontram e que toda mineração vem acompanhada de uma lógica predatória. “ A essência da mineração é a destruição de territórios e isso é uma realidade que a publicidade não mostra. Não está em nosso DNA esta ligação com uma atividade que gera morte e acaba com nossas comunidades, águas e biodiversidade”, reforça Maria Teresa Corujo.
“Não há o interesse em discutir outras alternativas realmente sustentáveis. A Fiemg transmite a falsa ideia de que agora vão começar a fazer uma “mineração segura, responsável e sustentável”. Se era possível fazer uma mineração assim, por que não fizeram antes?”, questiona a ambientalista Maria Teresa Corujo, integrante do Gabinete de Crise – Sociedade Civil e do Movimento pelas Serras e Águas de Minas.